Com faturamento de R$ 869 milhões em março de 2022, um dos setores mais atingidos nos últimos dois anos lança tendências e aposta na inovação e na tecnologia para as viagens de negócios.
Durante o auge da pandemia, quando a Covid-19 ainda obrigava boa parte do quadro de funcionários das empresas a trabalhar de forma remota e a respeitar medidas sanitárias contra a propagação do vírus, uma frase alarmista ecoou pelas conversas mundo afora: “As viagens de negócios nunca mais vão voltar“.
Com a fortificação de ferramentas digitais que encurtaram as distâncias, atenuaram os gastos e obrigaram as pessoas a se comunicar por meio de telas, a sentença acima poderia até fazer sentido em certos momentos dos últimos dois anos, mas o cenário já mostra sinais de retomada.
A volta das viagens corporativas e de grandes eventos presenciais no começo do ano, especialmente no último mês de março, chegou com força e surpreendeu até os mais céticos do setor.
O fim das restrições de viagens graças ao avanço na vacinação, à queda do número de mortes e de hospitalizações fez com que empresas, entidades e profissionais do setor de viagens corporativas observassem um aumento na demanda de deslocamentos e encontros presenciais.
Ainda distantes dos números pré-pandêmicos, especificamente o ano de 2019, os dados mostram que a retomada está na esteira do crescimento.
Ao todo, o setor brasileiro de viagens corporativas faturou R$ 869 milhões em março deste ano, montante apenas 2% menor quando comparado a 2019, quando o valor chegou a R$ 890 mi.
Os dados são da Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas (Abracorp), que, apesar da elevação dos custos operacionais acentuados pela guerra na Ucrânia e da dificuldade na contratação de mão de obra, enxerga que os números e os resultados são promissores para o futuro próximo.
“Acredito que teremos uma curva crescente ao longo de 2022”, destaca Gervásio Tanabe, presidente executivo da Abracorp.
A guerra continua como uma dúvida neste momento, mas, por outro lado, a associação enxerga a pandemia como um “fato já controlado”. “Já vemos os eventos corporativos e as reservas acontecerem definitivamente – e sem cancelamento”, afirma.
Se no segundo trimestre de 2020 as viagens corporativas viram uma queda de quase 90% em seus números, 2021 fechou com dados mais palatáveis.
No ano passado, o faturamento total alcançou R$ 4,370 bilhões, o que representa cerca de 40% do faturamento de 2019 (R$ 11,388 bilhões), e um crescimento de 18% em comparação aos números de 2020 (R$ 3,705 bilhões).
Não temos o “novo normal” que as pessoas esperavam, os eventos não serão todos de modo virtual. Eles existirão sim, mas os eventos presenciais serão também muito fortes. E já são uma realidade, não uma expectativa – Gervásio Tanabe, presidente executivo da Abracorp
Da Sazonalidade ao aperto das mãos: a Importância das Viagens Corporativas
Interação face a face, conexão pessoal, qualidade de relacionamento, ampliação do networking e maior confiança na hora de fechar um negócio com o famoso aperto de mãos. Estes são apenas alguns atributos mais comentados que as viagens corporativas proporcionam, pois são parte fundamental no processo do desenvolvimento de muitas áreas.
E, apesar de alguns contras pesarem na hora de uma viagem de negócios ser fechada, ela continua como uma peça extremamente importante no mundo do turismo e das empresas.
Segundo o relatório mensal de dados da US Travel Association de março de 2022, mais de 77% dos viajantes de negócios e 64% dos americanos empregados concordam que é mais importante do que nunca trazer de volta as viagens corporativas.
Para se ter uma ideia, no Brasil, as viagens de negócios, num geral, representam 60% dos bilhetes aéreos emitidos, de acordo com informações da Abracorp.
“Há uma preocupação com o preço, as passagens aumentaram, as tarifas dos hotéis aumentaram. As empresas e os indivíduos sabem que vão gastar muito mais num evento. Só que o cliente quer o evento. O passageiro quer viajar, ele quer se relacionar, quer estar naquele fornecedor e com aquele cliente. O ‘shake hands’ faz diferença”, diz Marcelo Cohen, CEO da BeFly, empresa especializada em turismo de negócios, referindo-se ao poder do clássico “aperto de mãos”.
No ritmo contrário de retração da pandemia, Cohen, que controlava a Belvitur, empresa de turismo de Minas Gerais, adquiriu em 2021 a Flytour, então terceira maior companhia de turismo da América Latina e líder no mercado corporativo.
Em março de 2019, a Flytour faturou R$ 415 milhões com um quadro de 2.500 funcionários. Já em março de 2022, sob a administração da BeFly, foram faturados R$ 594 milhões com 1.200 funcionários.
“O movimento que fiz nesse ecossistema foi o de entender que em 2022 o mercado corporativo ia voltar, foi um intuito meu, como acreditava. Dei sorte em acreditar no que estava certo”, resume.
“O que vemos hoje? As empresas deixando o home office (inclusive a própria Flytour), o mercado de lazer dando uma enfraquecida por conta dos preços abusivos das passagens aéreas e o mercado corporativo voltando com muita força”, aponta Cohen.
Como explica Gervásio Tanabe, o Brasil, assim como outros países, possui uma sazonalidade no turismo. Segundo ele, a grande demanda das viagens de lazer no ano ocorrem geralmente em três meses principais: dezembro, janeiro e julho.
Logo, fora destes meses, quem mantém o setor do turismo e de viagens, é o mercado corporativo. “É nesta ‘baixa temporada do lazer’ que entra a ‘alta temporada do corporativo’”, sugere Tanabe.
De modo geral, o mercado afirma que o nicho corporativo ainda tem um peso muito importante no setor das viagens, pois consegue manter a sazonalidade – e o Brasil ainda depende fortemente do mercado corporativo em comparação ao mercado de lazer.
A importância das viagens corporativas também seguem para o setor hoteleiro, que chegam a ser cruciais para o segmento. “Para nós é um segmento superimportante pois os viajantes corporativos não necessariamente representam um maior número, mas eles viajam muito mais”, afirma André Sena, Chief Commercial Officer (CCO) da Accor na América do Sul, rede com 330 hotéis em operação no Brasil.
Para Sena, o cliente corporativo viaja em uma média muito maior por ano quando comparado com o viajante de lazer. “Isso gera um volume de negócios muito importante para nossos hotéis e cria um colchão de ocupação para podermos trabalhar de maneira mais eficiente em outros segmentos”.
Via: https://viagemegastronomia.cnnbrasil.com.br/curiosidades/viagens-corporativas-setor-espera-retomada-surpreendente-dizem-especialistas/